sábado, 13 de junho de 2020

Senta que lá vem uma História!




Leitura do prefácio de “História e Memória”, de Jacques Le Goff
https://www.youtube.com/watch?v=oroCFBbVFIM&feature=youtu.be

1. Que relações existem entre a história vivida, a história "natural", senão "objetiva", das sociedades humanas, e o esforço científico para descrever, pensar e explicar esta evolução, a ciência histórica?

História é também uma prática social (Certeau). 

2. Que relações tem a história com o tempo, com a duração, tanto com o tempo "natural' e cíclico do clima e das estações quanto com o tempo vivido e naturalmente registrado dos indivíduos e das sociedades?


Matéria fundamental da história é o tempo.

O calendário revela o esforço realizado  pelas sociedades humanas para domesticar o tempo natural.


3. A dialética da história parece resumir-se numa oposição – ou num diálogo –
passado/presente (e/ou presente/passado). 
4. A história é incapaz de prever e de predizer o futuro.

A oposição passado/presente é essencial na aquisição da consciência do tempo
Para a criança, "compreender o tempo significa libertar-se do presente" (Piaget).
A visão de um mesmo passado muda segundo as épocas.
O passado é atingido a partir do presente (método regressivo de Bloch).

5. Em contato com outras ciências sociais, o historiador tende hoje a distinguir
diferentes durações históricas.

A história seria feita segundo ritmos diferentes e a tarefa do historiador seria, primordialmente, reconhecer tais ritmos. Em vez do estrato superficial, o tempo rápido dos eventos, mais importante seria o nível mais profundo das realidades que mudam devagar (geografia, cultura material, mentalidades: em linhas gerais, as estruturas) – trata-se do nível das "longas durações" (Braudel).

6. A ideia da história como história do homem foi substituída pela ideia da
história como história dos homens em sociedade.

Se a história tornou-se, portanto, um elemento essencial da necessidade de identidade individual e coletiva, logo agora a ciência histórica sofre uma crise (de crescimento?): no diálogo com as outras ciências sociais, no alargamento considerável de seus problemas, métodos, objetos, ela pergunta se não começa a perder-se.

...

Conferência "Memória, História, Esquecimento", de Paul Ricoeur

Sobre os conceitos de Memória, História e Esquecimento em Paul Ricoeur

As questões em jogo dizem respeito à memória, já não como simples matriz da história, mas como reapropriação do passado histórico por uma memória que a história instruiu) e muitas vezes feriu.

A memória pode aparecer duas vezes ao longo da nossa análise: antes de mais, como matriz da história, se nos colocarmos no ponto de vista da escrita da história, depois como canal da reapropriação do passado histórico tal como nos é narrado pelos relatos históricos.

 Transmite também à reapropriação do passado histórico pela memória uma vez que o reconhecimento continua um privilégio da memória, do qual a história está desprovida
A história pode, no máximo, fornecer construções que ela declara serem reconstruções. 

Mas entre as reconstruções, tão precisas e próximas dos factos quanto possível, e o reconhecimento, subsiste um fosso lógico e fenomenológico.

Modo de apropriação do passado pela memória, constitui o contraponto de toda a operação historiográfica. É na possibilidade e pretensão de reduzir a memória a um simples objeto da história entre outros fenômenos culturais que se diferenciam muito claramente as duas abordagens. Essa redução é um dos efeitos mais surpreendentes da inversão dos papéis gerada pela emergência e desenvolvimento da história como ciência humana.

3 grandes fenômenos essa incursão no trabalho da historiografia: 
testemunho; compreensão; interpretação.

Da memória como matriz da história passámos à memória como objeto da história.

O caráter seletivo da memória, auxiliado nesse aspeto pelas narrativas, implica que os mesmos acontecimentos não sejam memorizados da mesma forma em períodos diferentes.

Os historiadores não devem esquecer que são os cidadãos que fazem realmente a história – os historiadores apenas a dizem; mas eles são também cidadãos responsáveis pelo que dizem, sobretudo quando o seu trabalho toca nas memórias feridas. A memória não foi apenas instruída mas igualmente ferida pela história.

O lugar do esquecimento no campo que é comum à memória e à história deriva da evocação que acaba de ser feita do dever de memória: este pode ser igualmente expresso como um dever de não esquecer.

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