MEMORIAL


Cheguei a Brasília quando tudo aqui era bem vazio. 
Guará I, QE 20, 1975

Era 1975 e minha mãe chegava transferida do RJ pela ECT. 


Em 1980, ingressei no curso de graduação em História, na UnB, referência que desenvolveu a habilidade de contextualizar historicamente as situações educativas com as quais trabalho. Ao final da graduação em História, ingressei na graduação em Antropologia, que também me concedeu traços fortes à minha formação no sentido de relativizar a narrativa histórica e temporal e perceber os diferentes tempos sociais, os diversos pontos de vistas e suas construções simbólicas. Também foi nesse período que fui admitida como profª na FEDF.
A conjuntura da década de 1980 contribuiu fortemente para a minha formação no sentido de uma participação intensa nos movimentos sociais do período, tais como Diretas Já e os debates da Constituinte de 1987-88.
Nesse período, cursava as disciplinas de licenciatura em História, que me colocaram muito próxima à Faculdade de Educação da UnB e dos movimentos pela democratização da educação. Não me restringi somente às disciplinas da licenciatura, mas extrapolei o básico desta formação de licenciatura e fiz algumas disciplinas do curso de Pedagogia.
Também foi nesse período que fui admitida como profª na SEEDF. Lembro que vivi uma grande mudança na chegada à Secretaria de Educação como professora. Os gostos, os estilos que trazia do RJ e da UnB eram bem diferentes dos que eram compartilhados pelo coletivo de professores das três escolas iniciais onde fui lotada – uma escola rural, EC Boa Esperança; EC27 de Taguatinga; e EC39 de Ceilândia. Nelas, conheci novos estilos, de Goiás, de Minas, de Taguatinga e Ceilândia e, com o passar do tempo, aprendi a compreendê-los e a apreciá-los. As negociações para entrada nesse campo e as formas para o estabelecimento de diálogo com esse novo universo foi a gramática do movimento social e sindical.
Assembleia dos professores 💪

Em 1994, com a vitória de Cristovão Buarque para o governo do DF e a gestão democrática da educação da escola pública oficializada, ocorrem eleições para diretores de escola, nas quais fui eleita como vice-diretora, compondo a equipe de direção da EC44 de Taguatinga. Foi uma das experiências mais intensas e que me marcou profundamente. Não só a mim, mas a todos/as que fizeram parte desta gestão. Foi um período de muito aprendizado, de trabalho com a comunidade, de trabalho em equipe, de trabalho com diferentes grupos, que me potencializou as competências de liderança democrática e habilidades com metodologias participativas.
Conselho Escolar da EC 44 negociando com o Secretário de Educação a construção do muro da escola.
Antes, havia participado da APAM na EC 39 de Ceilândia, apoio pedagógico nas EC 27 de Ceilândia e EC Vicente Pires, contudo a experiência de gestão democrática na EC 44 de Taguatinga representou um marco em minha formação. A vontade de transformar a realidade, de democratizar as relações parecia muito próxima de ser realizada, mas ao mesmo tempo escapava pelas mãos... Como concretizar? Só tinha uma certeza: passava pela APAM, tinha que ser com os estudantes, com os pais e com as mães, com a comunidade escolar.
Nesse período, abrem-se as inscrições para um curso de especialização pós-graduação lato sensu na UnB em Administração da Educação. Era uma luz no fim do túnel. A 1ª pesquisa, cujo título foi Gestão participativa na escola: como se dá essa construção?, foi orientada pelo Prof. Dr. Roberto Algarte. Partiu do princípio que a construção de uma gestão participativa se realizava num processo coletivo, em que os envolvidos constroem a participação em sua prática cotidiana ao mesmo tempo em que a constroem em nível de significado e de valor. A questão que se colocou foi: como se dá a construção do conceito de participação pelos participantes deste processo?
O esforço de perceber a construção simbólica do conceito de participação pelo grupo de professores, auxiliares e equipe de direção foi frutífero e revitalizador, conferindo à escola a possibilidade de reflexão e de auto-conhecimento. Falávamos de participação, mas seu significado era diverso na escola. Para a equipe de direção, era “colocar a mão na massa”, para outras pessoas estar informada, saber que houve reunião e o que foi decidido. Participação como tomada de decisão, por exemplo, tinha uma frequência mínima de respostas no início da pesquisa. Ao final, a percepção do conceito era outro. Havia uma construção compartilhada de participação.
Esse retorno à universidade foi extremamente fertilizador, pois conferiu um movimento praxeológico à gestão da escola.
Em 1995, a mesma equipe foi eleita para a direção da escola por meio de eleições diretas. Dizer que revolucionamos a escola pode parecer um exagero. Mas se não o fizemos, fizemos quase isso.
Coletivo de professores do CEF 17 (ex EC 44) Taguatinga.

Estas revoluções são localmente referenciadas. A participação em instituições participativas, tais como coletivos docentes e de participação da comunidade, Conselhos Escolares, APAM, e em fóruns ampliados como o Orçamento Participativo constituíram-se em processos de democratização do Estado e da educação pública nos quais foram forjadas as  competências para a condução de processos participativos, especialmente no campo educacional.
Ingressei no mestrado em Educação, na UnB, também orientada pelo Prof. Dr. Roberto Algarte. A continuidade dos estudos em gestão da educação proporcionou o aprofundamento da temática da participação, focalizando agora o projeto político-pedagógico (PPP) da escola e sua gestão. Minha percepção era que o PPP se constituía num espaço privilegiado da gestão democrática participativa.
O doutorado em Educação se inseriu também na linha de pesquisa gestão e políticas públicas de educação. A tese O processo de institucionalização do princípio da gestão democrática do ensino público (http://repositorio.unb.br/handle/10482/8025), sob orientação da Profª Drª Mª Abádia da Silva, analisou o processo de institucionalização do princípio constitucional da gestão democrática do ensino público em três produções legislativas fundamentais: Constituição Federal de 1988, a LDB, Lei nº 9394/1996, e o Plano Nacional de Educação, Lei nº 10.172/ 2001; e nos programas do Ministério da Educação. Objetivou analisar e examinar a construção histórica do campo teórico da gestão democrática da educação no processo de institucionalização como princípio constitucional no período 1988-2007. Norteei-me pela questão: como as experiências de gestão nas escolas públicas e nos sistemas de ensino, as produções teórico-conceituais, as discussões e tensões no Congresso Nacional durante a institucionalização da gestão democrática e as mobilizações e lutas das entidades e associações de educadores se entrecruzam e constroem o campo da gestão democrática? A partir das contribuições e dos aportes teóricos de Pierre Bourdieu, campo e habitus, a gestão democrática da educação foi concebida como um subcampo em que grupos disputam a sua definição e tentam impor concepções e práticas. No longo percurso de institucionalização, os dissensos e os embates foram recorrentes e demonstraram as lutas em torno da gestão democrática da educação, a sua constituição como um subcampo teórico, e o movimento de expansão e incorporação da concepção de uma prática de gestão que garanta o direito à participação e à tomada de decisão, de estudantes, pais, professores e funcionários, como constitutivo do direito à educação, um direito de cidadania.
Minha tese foi publicada como livro pela UnB (20011).

Trabalhava em cursos de Pedagogia das IES de Brasília. 


Autorretrato. Curso Pedagogia para Início de Escolarização. (SEDF/FE/UnB)
Nosso autorretrato era tão denso! Nossas histórias de mulheres, professoras, e nossas escolhas profissionais: as representações sociais do ofício. Daria tudo para ler a poesia mais uma vez. Para ver nossos autorretratos.


Fui aprovada em um concurso público federal para o cargo de pesquisador-tecnologista em informações e avaliações educacionais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Esta mudança para o serviço público federal me colocou em uma nova posição no campo educacional, e novas perspectivas colocaram-se em meu desenvolvimento profissional, a federal. O estudo das políticas públicas passou a ser observado a partir do ponto de vista de quem a formula e implementa. Inicialmente, trabalhei em um GT na Seres/MEC com as ações de supervisão da educação superior.  Como uma das ações de desenvolvimento profissional, fui selecionada para a Especialização em Gestão de Políticas Públicas de Proteção e Desenvolvimento Social, ofertada pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). O contato com a Enap, uma escola de governo, inseriu o desafio da formação de desenvolver competências de servidores públicos para aumentar a capacidade de governo na gestão de políticas públicas. Como minhas competências profissionais se alinharam às competências institucionais da Enap, notadamente em função da minha localização no campo, que se sintonizavam com o projeto estratégico do governo federal, Plano Brasil sem Miséria, concorri em uma seleção para a coordenação de formação das carreiras do Estado e fui cedida à escola. Na Enap, coordenei vários cursos, mas destaco o curso Gestão participativa de políticas públicas e o curso Metodologias participativas nas interações entre Estado e sociedade.
Ao mesmo tempo em que trabalho na administração pública federal, também sou professora da educação básica na rede pública do DF. Atuo com educação profissional integrada à educação de jovens e adultos (EJA), no CED 2 do Cruzeiro o Curso Técnico em Serviços Públicos. 
Pinturas corporais indígenas: a pele social (EPT/EJA-CED 2 Cruzeiro).
Aqui, o desafio é a integração curricular.
1888, Viramos a página? Atividade integrada História e Língua Portuguesa.

Ainda o desafio da integração curricular entre História e Física abordando o estudo das máquinas a vapor na Revolução industrial do século XVIII. 
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1127469320685348&id=100002668717306&sfnsn=mo&s=100002668717306&vh=i
Watt James Watt

No Inep, atuo no monitoramento do Plano Nacional de Educação, especificamente com as metas relativas à educação profissional e tecnológica (EPT), as Metas 10 e 11.


A meu favor está a minha dupla localização profissional na burocracia federal e, na ponta, na escola pública, onde a política pública se realiza.
Estou cursando o Mestrado Profissional em Educação Profissional Tecnológica (ProfEPT) no Instituto Federal de Brasília (IFB). Quero estudar a avaliação da EPT, em perspectiva sistêmica, ampla, fato que me motivou a estar no ProfEPT, de forma a compor um conjunto de referenciais teóricos e práticos para uma avaliação da EPT de Nível Médio. 
Para tanto, o melhor caminho é trilhá-lo com os sujeitos do campo, fazendo parte do campo e do IFB.


Apresentação do Memorial. 6ªf, 13/09/2019.







Acredito que um diálogo profícuo pode ser estabelecido entre IFB e INEP e fazer avançar a pesquisa sobre a EPT.

4 comentários:

  1. Ana Elizabeth, impressionante sua trajetória. Louvável seu empenho e sua trajetória de luta. Vc traz inspiração.

    Achei sensacional sua intenção em estudar avaliação pra EPt. Isto e fundamental pra melhoraria da Rede.
    Sucesso

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  2. História de professora, Raquel!
    Obrigada pela força.

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  3. Ana, muito obrigada por compartilhar um pouco da sua história conosco! Estou certa que sua intenção de pesquisa trará bons frutos! Parabéns!

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